Como não cair no canto da sereia
Se o ganho parece fácil, esqueça. investir em empresas com comportamento duvidoso é um jogo de altíss imo risco
Juliana Schincariol
O caso mais recente é o da Agrenco. Depois de subir 1.195,45% em 2009 e ainda ter alta de 1,40% em 2010, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu seu registro de companhia aberta no dia 11 de fevereiro. O motivo foi a falta de relatórios trimestrais há mais de 12 meses. Sem informações financeiras, foram as especulações que impulsionaram a alta dos Brazilian Depositary Receipts (BDR) da empresa na Bovespa. Caso o registro venha a ser cancelado, os investidores só poderão negociar os BDR de forma privada. A que preço? Nem Deus sabe. Milhares de pessoas físicas entraram nessa onda furada nas últimas semanas. O número oficial permanece um mistério.
A CVM divulgou, em janeiro passado, os nomes de 16 empresas inadimplentes, que ainda não entregaram algum documento obrigatório à autarquia há pelo menos três meses. Destas, oito têm ações negociadas em bolsa. Duas delas também tiveram os registros suspensos: a gaúcha Livraria do Globo (que não registra negócios desde 2004) e a fluminense Trorion. Na tabela, também consta a combalida Gradiente Eletrônica, que deixou de entregar o formulário de informações trimestrais (ITR) referente ao período entre janeiro e março do ano passado. No entanto, suas ações acumulam valorização de 206% em 2010, puxada pelo anúncio de um novo plano de negócios para a empresa. Além disso, o volume médio diário negociado subiu de R$ 159 mil, em 2009, para R$ 3,5 milhões este ano. Pura especulação.
"O acionista tem que pressionar a empresa a entregar os balanços" ricardo martins, Vice-presidente da Apimec/SP |
O cancelamento de registro de uma companhia aberta nem sempre é sinal de prejuízo. Ele pode estar previsto numa recuperação judicial ou num processo de fusão. Mas, quando isso é uma decisão imposta pela CVM, quem arca com o prejuízo é o investidor, como aconteceu com a Sharp em 2006.
Mesmo com a documentação em dia, alguns papéis são negociados apenas na base da boataria. Tem sido o caso da Laep - dona da Parmalat - , da Telebrás e da Kepler Weber. Com liquidez ínfima e a preço de alguns centavos, qualquer movimentação gera movimentos mais bruscos na cotação destas ações. A melhor forma de se proteger dos conhecidos micos do mercado é se manter longe deles. "É o canto da sereia. A minha recomendação é muito simples: o pequeno investidor deve se afastar e fingir que estas empresas não existem", recomenda o consultor financeiro Maurício Hissa. Com R$ 40 mil ou R$ 50 mil, acionistas conseguem fazer com que os "micos" poucos negociados tenham uma forte valorização. É comum que anunciem os ganhos em fóruns ou comunidades nas mídias sociais, um chamariz para os mais desinformados. "O pequeno é massa de manobra para que os grandes, que realmente ganham dinheiro, possam entrar ou sair. E fica com a batata quente nas mãos", completa Hissa. Melhor tampar os ouvidos.
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