SÃO PAULO - Imagine o volume de mercado negociado na BM&F Bovespa setuplicar em apenas um dia. No próximo pregão, uma queda brusca no volume, superior a 60%. Por outro lado, nas duas sessões seguintes, ocorre forte reversão: o volume duplica em um dia e quase triplica no outro.
É justamente esse o movimento visto nas ações da Brasil Ecodiesel ( ECOD3 ) entre os dias 14 e 19 deste mês, o qual aguça a curiosidade, seja pela magnitude do aumento no volume, que passou de R$ 14,4 milhões a R$ 227,87 milhões no período referido, seja pelo o que ele representa.
Alta circulação, detida por todos
"Com mais de 20.000 acionistas e uma participação dos investidores pessoas físicas em cerca de 50% do capital, a companhia não tem controlador". A afirmação está inserida no último relatório trimestral de resultados da companhia e explica, em parte, um dos porquês do aumento expressivo no volume, visto que investidores de varejo estão mais propensos ao efeito manada.
Com valor de mercado próximo a R$ 754,25 milhões - conforme o último fechamento -, salta aos olhos constatar que, no último dia 19, aproximadamente um terço de todas as ações em circulação da Brasil Ecodiesel foram negociadas. Mais surpreendente ainda é saber que o free float da companhia é de 99,6%, destacando ainda mais participação do investidor de varejo nas negociações.
Qualquer centavo é relevante
A forte presença de minoritários no capital social da empresa pode ser creditada ao baixo preço de suas ações, cotadas a R$ 1,04 no último fechamento. Contudo, se o preço baixo favorece a entrada de investidores de varejo, qualquer mudança de centavos na cotação pode equivaler a uma variação percentual relevante.
"Esse tipo de variação não é bom para o acionista, nem para nós", afirma Charles Mann de Toledo, diretor de Relações com Investidores da companhia. À luz deste cenário, o executivo enxerga a possibilidade de um grupamento de ações da empresa em breve, fato que "está no radar".
Resultados e reestruturação
Um dos porquês do aumento no volume de negociações foi a proximidade da divulgação de resultados do terceiro trimestre, cercado por projeções positivas. Dentre os números, destaque para o lucro e para o Ebitda recordes, de R$ 5,25 milhões e R$ 17 milhões, respectivamente.
As máximas históricas foram geradas pela reestruturação financeira, uma vez que, com os aumentos de capital e o refinanciamento da dívida, a Brasil Ecodiesel começou a possuir capital de giro para manter-se e atender a demanda dos leilões, que antes eram cumpridas em sua cota mínima.
Conforme a companhia, "a reestruturação financeira permitiu uma alteração na estrutura e no perfil do endividamento". O endividamento total reduziu de R$ 229,5 milhões no segundo trimestre para R$ 78,4 milhões no terceiro trimestre, mudança também vista no perfil, quando o percentual da dívida de curto prazo passou de 40,3% do total para 23,3%.
Prospectos favoráveis, mesmo sem dividendos
Se o crescimento no volume se estagnou, a tendência pode continuar à frente. O governo federal informou na última quarta-feira (28) que antecipará em três anos, para janeiro de 2010, a obrigatoriedade de adição de 5% de biodiesel ao diesel de petróleo, o que deverá impulsionar as receitas da companhia.
Em adição, cabe ressaltar que a companhia nunca pagou dividendos aos acionistas, dado que existem prejuízos acumulados de R$ 285,06 milhões apresentados nos exercícios anteriores. "A legislação impede qualquer distribuição de dividendos enquanto a companhia não compensar esses prejuízos com lucros auferidos", discorre a Brasil Ecodiesel.
Por último, conforme gráfico abaixo, vale ressaltar que o aumento do volume de negociação é consoante com a valorização das ações, uma vez que as altas recentes atraíram o olhar do investidor. Contudo, não há como estabelecer uma relação de causa e efeito entre volume e preço das ações.
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