MERCADO LIVRE

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TELB4 - OPINIÃO DO SR. ARBACHE

A demanda por internet de banda larga cresce muito mais rapidamente que os investimentos em redes e serviços. Os sinais vão ficando cada vez mais evidentes, especialmente, quando se registra casos como o do Speedy, a banda larga da Telefônica, com vendas suspensas há quase 60 dias, devido às frequentes panes observadas no último ano.
A própria Telefônica, ao justificar as dificuldades, reconheceu que entre 2003 e 2009, o tráfego na rede cresceu duas vezes mais que o número de clientes. A avaliação tentava fugir da interpretação da Anatel - que suspendeu as vendas do serviço - ao justificar que a grande demanda é de clientes já existentes.
Para o professor de Logística e Sistemas de Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Arbache, que também é consultor na área, o descompasso entre a demanda e os investimentos é grande e assim continuará por mais de uma década. A falta de planejamento, sinaliza ele, faz com que diferentes iniciativas caminhem isoladamente, atrasando a oferta de banda larga de qualidade para grande parte dos brasileiros.
"Ainda que os investimentos tenham um crescimento de 20%, nos próximos anos o descompasso em relação à demanda reprimida ainda será da ordem de 500%. Há milhões de pessoas entrando, graças a computadores mais baratos", avalia Arbache. "Os investimentos estão no ritmo do crescimento vegetativo e não da demanda reprimida. Desse jeito, só haverá um equilíbrio entre investimentos e demanda daqui 12 anos", calcula o especialista.
Arbache reclama da falta de planejamento por entender que os investimentos, principalmente, os em infraestrutura, não são organizados. "Temos o ADSL já instalado, há o aumento de redes wireless, especialmente pelo celular, e há a possibilidade de oferta de banda larga pela rede elétrica. Tudo isso anda separado e ainda precisamos pensar no investimento em fibra ótica, que depende essencialmente do Estado", acredita.
Telebrás, o retorno?
O especialista é cético quanto ao poder da Internet pela rede elétrica – tema que é objeto de regulamentação pela Agência Nacional de Energia Elétrica. Para Fernando Arbache, isoladamente a iniciativa não terá sucesso. “Há problemas na rede, muitos ‘gatos’ e locais onde não se consegue trabalhar. A vantagem é que se trata de uma rede já instalada. Mas tenho dúvida com relação à qualidade", afirma.
Para Arbache, é preciso fazer um planejamento conjunto da rede já existente de internet - (ADSL) com a mobilidade dos celulares 3G e a própria rede elétrica - para agilizar a demanda. Ainda assim, o professor da FGV acredita que será necessário investimentos numa rede de fibra óptica, principalmente nos centros urbanos, que concentram 80% da população.
"Irlanda, França, Noruega, Suécia e Coréia são exemplos de que uma rede de fibra ótica exige a participação do Estado à frente do processo. No mundo, foi o governo quem investiu para atender a demanda reprimida. Na Coréia, o governo colocou fibra óptica em 92% dos lares, mas o retorno se deu em três anos com o aumento no volume de impostos com os serviços sobre a rede”, sustenta o especialista.
No Brasil, Arbache calcula que um investimento semelhante exigiria US$ 18 bilhões. Por isso, embora ressalte receios com a criação (ou recriação) de uma estatal, o professor de Logística e Sistemas de Informação defenda uma estrutura como a Telebrás.
"Não é por ser estatal que é ruim, mas temos uma cultura complicada, de corrupção. Ainda assim, acho que é uma estatal mesmo que deve fazer, como aconteceu em outros países. O uso da Eletronet é interessante. Mas o fundamental é ter planejamento. Isoladamente, vamos levar muito tempo ainda para contarmos com uma infraestrutura adequada à demanda", completa Arbache.

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